AS TRÊS LUZES DA LOJA
Ailton Branco
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Ao refletir sobre o funcionamento de uma Loja Maçônica trabalhando no Rito Escocês Antigo e Aceito, é natural reconhecer que há três personagens principais e fundamentais; o Respeitável Mestre, o Primeiro Vigilante e o Segundo Vigilante. Esses destaques entre os Oficiais são considerados os pilares de sustentação da dinâmica necessária para que as atividades tenham força e vigor. A importância dos três principais Oficiais está claramente ligada às suas localizações, às joias que vestem e aos poderes de que estão investidos. Até seus nomes representativos de Sabedoria, Força e Beleza são expressivos do seu papel em benefício dos seus Irmãos e da sua Loja.
Os nomes metafóricos na maçonaria foram adotados inicialmente pelos maçons rosa-cruzes na elaboração dos rituais do Grau de Soberano Príncipe Rosa-Cruz do Rito de Kilwining. Os rosa-cruzes de Kilwining não gravam seus nomes civis nas colunas gravadas do Capítulo. Na sua recepção escolhem um título característico sob o qual são sempre designados. Os Príncipes Rosa-Cruz de Kilwining usam nomes heroicos ou de virtudes. Somente o Presidente e os Vigilantes, durante o desempenho de seus personagens, deixam seus títulos para adotarem os seguintes nomes, afeitos aos seus cargos, tais como: Sabedoria para o Atersatha; Força para o Primeiro Guarda, Beleza para o Segundo Guarda, Marme ou Irmão Terrível para o Terceiro Guarda.
SABEDORIA
Templo de Ártemis
Sabedoria pode ser considerado o discernimento na escolha dos conhecimentos mais ajustados para uso numa determinada circunstância existencial. Facilmente, Sabedoria é confundida com conhecimento. Alexander Pope, pensador inglês, diz que o conhecimento vem do estudo, a Sabedoria é fruto da experiência.
O Respeitável Mestre, no Oriente, representa o pilar da Sabedoria e é a fonte de conhecimento e de direção dentro da Loja. Ele é responsável por tudo o que ocorre na reunião e são seus projetos que orientam os membros. Seguindo os ideais destacados na cerimônia de sua posse, o Respeitável Mestre dá o exemplo de boa moral e de conduta exemplar em todos os momentos.
Enquanto segura o malhete e veste o Esquadro como joia, o Respeitável Mestre trabalha constantemente pela paz e pela harmonia do grupo que lidera, num processo que os rituais denominam de meditativo. No entanto, o trabalho da Loja maçônica brasileira em templo está inflacionado com assuntos administrativos que desviam o foco do objetivo principal da sessão ritualística. Até o final dos anos 1900, as Lojas examinavam os temas não ritualísticos, - os não iniciáticos, a bem dizer, porque, em maçonaria, tudo que é ritualístico, é iniciático - em reuniões da administração em data diferente do dia das atividades iniciáticas. Atualmente, para os Irmãos da administração não terem que dispor de uma segunda data para a Loja, a burocracia da gestão está sendo levada para competir no tempo disponível com instruções e peças de arquitetura.
O processo meditativo exercitado coletivamente pelos maçons em Loja aberta, com a coordenação do Respeitável Mestre, aproxima os conteúdos pessoais e coletivos da alma de cada Iniciado, conteúdos influenciados pelos conceitos morais do chamado mundo profano, com a essência coletiva da alma universal que a Loja simboliza. A Sabedoria do Respeitável Mestre que clarifica a consciência de que somos uma só irmandade, que a tolerância, sem preconceitos nem rancores, promove o diálogo e não a luta, é indispensável para conduzir o processo iniciatório de cada candidato que bate à porta do templo maçônico.
O Grau de Aprendiz é o portal primeiro a ser conhecido e incorporado na marcha que desenvolverá na direção do conhecimento da espiritualidade existente na alma universal, raiz que origina a alma primordial do início da vida de cada ser. O Aprendiz Maçom se declara receptivo aos ensinamentos da Grande Sabedoria Universal e o Respeitável Mestre é o veículo que recebe a linguagem subjetiva protagonizada pela divindade, representada na Loja pela figura arquetípica do Sol, e a decodifica para entendimento do recipiendário.
O trono do Respeitável Mestre está elevado sobre três degraus porque é a figura proeminente do processo. Alegoricamente, está mais próxima da divindade inspiradora, o Sol, e fisicamente está acima dos outros Irmãos pois é a maior autoridade teocrática da Loja.
A civilização da Gréia Antiga se destacou em diversas disciplinas, sendo uma delas a Arquitetura. Foram criados novos sistemas e adotado o termo “ordem” para marcar o estilo próprio de cada período. Na construção dos templos foram utilizados três sistemas ou ordens: a jônica, a dórica e a coríntia.
O pilar da Sabedoria é representado por uma coluna de ordem Jônica que transmite a impressão de elegância, fragilidade e riqueza decorativa. A Ordem Jônica foi empregada na construção do templo dedicado à deusa Ártemis, na ilha de Éfeso.
FORÇA
A Força da mente é fundamental para a Sabedoria ser colocada em prática. O Primeiro Vigilante, no Ocidente, representa o pilar da Força e serve para apoiar o Respeitável Mestre no cumprimento do objetivo de tornar cada maçom feliz em suas transmutações conscientes e inconscientes. A durabilidade do trabalho depende da Força empregada no esforço de assimilar as instruções sobre moral e símbolos. A durabilidade de um edifício depende de seu alicerce. A Loja maçônica e seus muitos edifícios espirituais dependem da dedicação e do comprometimento da Arte maçônica na construção da Grande Obra em cada membro da sua comunidade.
A cadeira e a mesa do Primeiro Vigilante ficam elevados num estrado de dois degraus. O Primeiro Vigilante, simbolizando a força de vontade presente nos trabalhos da Loja em favor do processo de transmutação a ser realizado pelo postulante, está em posição de menor destaque que a Sabedoria do Respeitável Mestre porque ela é o atributo divino que preside as transformações morais e conceituais a serem assimiladas pelo maçom. A força de vontade, por outro olhar, está acima da beleza porque o iniciado somente encontrará a beleza da nova alma se tiver a força de vontade de se submeter à dor da transmutação.
A Força espiritual representada na maçonaria é a força de vontade com o intuito da purificação moral. Hércules, grande herói da mitologia grega, que derrotou a hidra, monstro que tem um corpo de dragão e nove cabeças de serpente, é um dos símbolos mais conhecidos da força física e metaforicamente da força de vontade capaz de vencer as hidras do medo e da hesitação. O postulante a ser recebido na maçonaria precisa ter força de vontade para superar os obstáculos lançados pelo dragão da consciência crítica para se aproximar do seu inconsciente, onde residem os arquétipos coletivos e pessoais da sua vida profana, e viabilizar a transmutação desses conteúdos espirituais em arquétipos coletivos universais, revelados pelo interior da Loja simbólica.
A ordem Dórica é a mais antiga das três e está presente no pilar sintetizando a Força. Sua denominação tem origem no povo dório que foi o primeiro a incorporar esse estilo arquitetônico. Caracteriza-se pela sobriedade e pela simplicidade, assim como pela ideia de harmonia.
BELEZA
A Beleza adorna o trabalho cooperativo em Templo quando a convergência dos interesses pessoais de autoconhecimento se manifesta em harmonia. Fazer o que é melhor para “nós” torna o processo iniciatório maçônico um cenário rico em experiência social. Isso significa que os maçons podem realizar juntos coisas que não podem realizar sozinhos.
O Segundo Vigilante, no Ocidente, lado do Sul, como consta desde o primeiro ritual manuscrito do Grau de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, representa o pilar da Beleza e serve para adornar a presença hipotética do Respeitável Mestre na posição do Sol ao meio dia. Deve-se recordar que o Respeitável Mestre representa, no Oriente, o Sol Nascente no raiar do dia, ou seja, na abertura da Loja. Depois de atingir a plenitude da sua atividade, a Loja dispõe alegoricamente da luz e do calor do Sol, no meridiano, para que os trabalhos iniciáticos tenham intensidade e harmonia. Se o Respeitável Mestre representa o Sol, quando essa estrela se desloca para a posição de meio dia, o Respeitável Mestre, embora permaneça fisicamente no Oriente, virtualmente também se desloca para o meio dia. Associa-se ao Segundo Vigilante para dirigir a Loja com Sabedoria e Beleza.
Os artistas disputam a estética da beleza e os filósofos divergiram sobre o que é beleza. As Pirâmides eram bonitas para os egípcios, mas os arquitetos modernos consideram os traços das Pirâmides simples e severos, com pouca beleza arquitetônica. Os maçons que escreveram os conceitos morais e escolheram os símbolos que caracterizam o Rito Escocês Antigo e Aceito, elegeram o Templo de Jerusalém, construído por Hiram Abif, o cúmulo da beleza arquitetônica, elevando-o à condição de referência metafórica para a Grande Obra do maçom no seu processo de morte e renascimento espiritual. O Iniciado maçom ouve falar da analogia que se faz do chamado templo interior com o templo de Javé, querendo dizer que a obra dos hebreus deve servir de modelo a ser perseguido na construção da Pedra Filosofal de cada um.
A cadeira e a mesa do Segundo Vigilante ficam elevados num estrado de um degrau. É a elevação menos acentuada. A Beleza no interior de uma Loja aberta tem a responsabilidade de dar contornos de boa expectativa nos momentos em que a rudeza da transmutação preocupa o candidato durante as vivências emocionais das Iniciações.
A ordem Coríntia é uma das mais utilizadas e é conhecida pela beleza de seu capitel. A coluna Coríntia acompanha a figura do Segundo Vigilante e se destaca por sua decoração. Todos nós temos juízos individuais sobre beleza. A Loja maçônica, com seu interior iluminado pelo Sol, mostra a beleza da alma universal à disposição do maçom para iluminar o seu inconsciente, porta voz da alma pessoal e coletiva, na transmutação do chumbo espiritual pelo ouro da nova consciência filosófica.