Pelo menos três Mestres - Oficina REAA

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Pelo menos três Mestres
      
“Que estejam presentes no mínimo sete irmãos, dos quais pelo menos três Mestres.”

Esta resposta do Orador tem causado questionamentos por parte de muitos maçons do REAA, pois não há como compor uma Loja só com 3 Mestres.
Para buscarmos um entendimento a respeito desta afirmativa, precisamos nos reportar ao início do simbolismo do REAA.


Quando do surgimento do simbolismo do REAA e dos primeiros rituais em 1804, não fazia muito tempo que o grau de Mestre havia sido oficialmente criado na Inglaterra (sem confirmação efetiva, há quem afirme que ele foi criado na França). A data da criação do grau de Mestre é meio duvidosa. Não devemos confundir Mestre como função na Maçonaria Operativa e o grau de Mestre na Maçonaria Especulativa e nos rituais.


Em 1724 fundou-se em Londres, uma sociedade formada por mestres de obras e músicos que se reunia na Taverna Cabeça da Rainha. O número de homens que fundaram esta sociedade era pequeno, mas tratava-se de pessoas muito cultas e interessadas em música e arquitetura. Foi denominada de Philo Musicae et Arquitecturae Societas Apollini. Seus fundadores eram maçons. Teve existência efêmera. Encerrou sua atividades no início de 1926. Pois, durante sua vigência, mais precisamente em 02/09/1725 e 23/12/1725 nela foram elevados ao grau de Mestres os Grandes 2º e 1º Vigilantes da Grande Loja de Londres respectivamente.
Há que se ter em mente que nesta época a Lenda de Hiram inexistia dentro da Ordem, mas a lenda Noaquita.


Até 1738 os Grão-Mestres ainda eram Companheiros. Foi neste ano que historicamente a Grande Loja de Londres oficializou o grau de Mestre e que sofreu resistências nos anos seguintes até ser reconhecido de forma tranqüila. Os cargos em Loja também estavam em formação mais definitiva, se estabelecendo novos, bem como suas funções, paramentos, etc.


Quando da confecção dos rituais do REAA de 1804, tínhamos Templos sem os degraus para subir ao Oriente como vemos hoje, nem balaustrada. Assim, todos os que hoje se encontram no Oriente, à época não estavam no Oriente, exceto o Mestre que presidia a Loja. O entendimento claro e inequívoco, simbólico, esotérico, era de que o Oriente tinha sua representação na pessoa do Venerável Mestre. Os três Mestres obrigatórios eram as Luzes: Venerável Mestre, Primeiro Vigilante e Segundo Vigilante. Os demais cargos poderiam ser ocupados, ou por mestres ou por Companheiros sem qualquer restrição. Os Companheiros eram maçons experientes, com conhecimento dentro da Ordem.


Dentro desta arquitetura podemos visualizar, por exemplo, primeiro diácono, orador, secretário estabelecidos no Ocidente, podendo ser, ou não, mestres maçons. Conforme a Potência e sua legislação, a falta de um número específico de mestres em uma Loja Maçônica, esta deve abater colunas. Por muitos anos Lojas com pequeno número de obreiros e de mestres, sofrem para montar uma Loja para realizarem seus trabalhos, por vezes obrigando-se a realizá-la a campo, ou nem isso. Outras lutam fervorosamente para exaltar seus obreiros no menor espaço de tempo possível, para se sentirem mais seguros quanto ao número mínimo de mestres necessários, tudo em detrimento da qualidade na formação de maçons ao terceiro grau.


A partir da utilização dos Templos do simbolismo do REAA pelos graus (quarto em diante até 18º - Rosa Cruz) na França, houve a necessidade de se adequar sua estrutura. Como se sabe, na França, o Grande Oriente de França através de um acordo com o Supremo Conselho francês, inicialmente era o responsável por estes graus, isto facilitou esta adaptação, até que o acordo foi rompido. O problema começa aqui. As Lojas simbólicas não retornaram à sua arquitetura original, gerando toda a confusão que hoje temos. Os textos dos rituais não se coadunaram mais com a realidade inicial do rito, sofrendo alterações e enxertias adaptativas e irmãos até hoje se esforçam, realizando contorcionismos ritualísticos para explicar o inexplicável.


Por derradeiro, devemos observar que, enquanto outros ritos se preocupam em manter suas origens, estabelecendo pequenas alterações, que não afetam sua lógica e estrutura, os rituais do REAA talvez sejam os mais deturpados que existam no mundo. E o Brasil é terra fértil para os adoradores de ‘seus rituais’. Não é difícil entender essa perspectiva. Os Supremos Conselhos, que se dizem os únicos responsáveis pelo rito e pelos rituais - de todos os graus, são os primeiros a não respeitarem as origens, criando uma montanha de alterações. No simbolismo, em especial, criam verdadeiros Frankensteins. Por outro lado, as Potências simbólicas não admitem que o Supremo Conselho se arvore donos dos rituais do simbolismo, promovendo alterações conforme seus interesses, ou conforme os interesses de cada administração. Sem dúvida que debaixo de pontes eivadas de vaidades passam águas turvas.
O resultado é que nestas infinitas possibilidades de arranjos nos obrigamos a afirmar que praticamos o REAA de nossa Potência e não simplesmente REAA.

Nelson André Hofer de Carvalho
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