RITO ESCOCÊS DO BRASIL - V
E o Giro, Comendador ?
A Oficina de Restauração do REAA aumenta a diversificação de temas disponíveis acrescentando a publicação de uma série de análises
sobre conteúdos e procedimentos adotados nos rituais dos graus simbólicos das Grandes Lojas brasileiras e um pouco de história sobre esses estranhos no ninho do REAA. São expressivamente diferentes
dos usados pelo Supremo Conselho em condomínio com o GOB quando ambos eram parceiros, antes das Grandes Lojas. As caminhadas dos Oficiais com sinal penal armado, fazendo giros por fora do templo e por trás das
Luzes são marcas de um novo e estranho escocesismo, lançado em 1928. Apesar das discrepâncias, os rituais inventados pelo Supremo Conselho foram também atribuídos ao REAA. São tão
diferentes que inauguraram um Rito novo. Há oitenta anos as Grandes Lojas praticam um Rito feito somente para elas, um Rito Escocês brasileiro. E há oitenta anos as Administrações eleitas
promovem modificações nos rituais porque não os identificam com o REAA conhecido antes. Umas Grandes Lojas modificaram mais que outras.
Os rituais de 1928 desfiguraram o Rito Escocês Antigo e Aceito precedente. O giro em Loja imaginado para os rituais implantados nas Grandes Lojas foi surpreendente, marcante e
extravagante. A localização de Aprendizes e Companheiros fora do templo complementa essa fantasia novidadeira na época do seu lançamento.
A área do Ocidente foi delimitada pelas Colunas Zodiacais, pelas Colunas B e J e pela balaustrada do Oriente. Entre as Colunas Zodiacais e a parede do prédio do salão
onde está o templo há um espaço. O ritual de 1928 diz que no espaço situado no Norte ficam os Aprendizes e no Sul, os Companheiros. Ambos, fora do ambiente considerado templo. A idéia de
separação entre o limite do templo simbólico onde funciona a Loja e a parede do salão onde foi ornamentado o templo gerou muita confusão. A entrada do templo no Ocidente fica entre as Colunas
J e B, mas as batidas consideradas na porta do templo são dadas na porta do salão. Para os maçons iniciantes e até para a maioria dos mais antigos era difícil compreender que ao mesmo tempo
em que Aprendizes e Companheiros estavam fora do templo porque ficavam na parte externa das Colunas Zodiacais e B e J, a porta do salão que ficava na parte externa das Colunas era a porta do templo.
No ritual de 1928, considerado ainda em vigor pelo Supremo Conselho, durante os trabalhos nos graus de Aprendiz e Companheiro a circulação dos Oficiais consiste em esquadrejar
o Ocidente pelos considerados espaços externos. Dentro da Loja o Oficial, Mestre de Cerimônias como referência, para se dirigir ao Tesoureiro que se posiciona às suas costas, para não andar
para trás, atravessa a largura do Ocidente caminhando junto à balaustrada, passa entre essa e o Hospitaleiro, sai no espaço entre as Colunas Zodiacais no Sul e a parede do salão, dobra à
direita, passa na frente dos Companheiros e atrás do Segundo Vigilante. Após a última Coluna Zodiacal do Sul, vira à direita e percorre o espaço entre a parede do salão e as Colunas
B e J. Passa atrás do Primeiro Vigilante e após a primeira Coluna Zodiacal do Norte dobra à direita e segue em direção à balaustrada do Oriente. Passa na frente dos Aprendizes e entra
no Ocidente do templo junto ao Oriente para chegar à mesa do Tesoureiro, pela esquerda do mesmo. Cumprida a tarefa segue a caminhada até o seu lugar na Coluna do Norte. Um interminável entra e sai do templo.
Se o destino for o Venerável, o Mestre de Cerimônias sai do seu lugar, sobe os degraus do Oriente, passa atrás do trono e se aproxima do Venerável pelas costas e no lado esquerdo do mesmo.
Essa conjuntura era ensinada como decorrente do fato de que Aprendizes e Companheiros não entravam no Templo de Salomão. No momento de ministrar as instruções,
algumas Lojas tidas como mais esclarecidas em liturgia conduziam o Aprendiz ou Companheiro até entre as Colunas B e J para receberem o “salário” ou para apresentação da peça de
arquitetura sobre a instrução recebida. Outras Lojas mandavam o Aprendiz ou Companheiro designado apenas levantar-se para receber a instrução no seu lugar fora do templo ou ler a peça de
arquitetura.
Deduz-se da descrição que o esquadrejamento se processa no sentido horário. Isso origina diversos movimentos que agridem a coerência interpretativa do ritualismo.
Para fins de constatação de uma eventual situação prática, imagine-se que um Companheiro vá receber uma Instrução do Grau. O Mestre de Cerimônias atravessa o Ocidente
paralelamente à balaustrada, dirige-se ao Companheiro na Coluna do Sul, fora das Colunas, e o conduz até entre Colunas B e J. Após a Instrução, para voltar à Coluna do Sul, o Mestre
de Cerimônias conduz o Companheiro por fora das Colunas pelo lado Norte. Próximo à balaustrada do Oriente entra no Ocidente, passa na frente da entrada do Oriente, sai do Ocidente na Coluna Sul e chega
ao lugar dos Companheiros. Essas entradas e saídas laterais do interior do templo junto à balaustrada são irregulares porque a entrada no templo deve ser apenas entre as Colunas B e J.
Outra incoerência – nos graus de Aprendiz e Companheiro as Lojas se reúnem para trabalhos visando o aperfeiçoamento desses Irmãos. Mas eles ficam fora
do ambiente do trabalho que lhes é dedicado. Por analogia, uma escola onde os alunos ficam fora da sala de aula durante a explanação do professor dentro da sala.
Tudo isso valeu até aproximadamente 1990. A circunvolução do ritual de 1928 e o caminhar com o sinal foram abandonados pelas Lojas. Naturalmente! O Supremo Conselho
assimilou bem. Estava ansioso para se livrar do giro anacrônico e também da incoerência entre as duas orientações conflitantes do ritual; caminhar à Ordem e ter o corpo ereto com os
pés em esquadria para fazer o sinal penal. Sumiram das Grandes Lojas brasileiras. Esses procedimentos marcaram uma época em que jamais uma ritualística maçônica foi desenvolvida com tanta
burocracia funcional. Foram giros ritualísticos sem precedência.
Os maçons contemporâneos desses procedimentos e, portanto, partícipes durante anos dos trabalhos em Lojas do chamado REAA das Grandes Lojas, não receberam
interpretações confiáveis e convincentes para a dualidade de entendimentos sobre as localizações de Aprendizes e Companheiros. Nos primeiros 60 anos dos rituais inventados pelo Supremo Conselho
em 1928, Aprendizes e Companheiros não possuíam hierarquia Iniciática para habitar as dependências do Ocidente do templo. Num indefinido momento o conceito mudou, foram considerados aptos e trazidos
para o interior do Ocidente. Acabara a discriminação. As alegações, diversas. Algumas sofisticadas, outras longas. E o resultado final? Indiferente. Continuaram sendo feitos maçons do mesmo
modo em ambos os períodos. O que mudou foi a coerência dos procedimentos, a diminuição do tempo dedicado ao andar inútil para a finalidade essencial da reunião em Loja e a redução
dos corredores de circulação fora das Colunas, espaço que foi incorporado à área do Ocidente. Agora, as Colunas Zodiacais são esculpidas nas paredes do salão.
Conforme o texto da mensagem do Soberano Comendador aos Irmãos das Grandes Lojas, intitulada “Precedência”, quaisquer transformações ritualísticas
de autoria das Grandes Lojas sem autorização, são esbulho de competência. O proprietário dos seus rituais é o Supremo Conselho. Portanto, as mudanças no giro, tanto no trajeto
como na postura física, durante os anos 1990 devem ser vistas como esbulho de competência. O Supremo Conselho, na época, não recriminou os Irmãos das Grandes Lojas. Terá autorizado
em segredo as mudanças? Por que os giros foram trocados? Os anteriores estavam irregulares? Não pertencem ao simbolismo do REAA? Ao longo de mais de meio século muitas peças de arquitetura ensinaram
que a caminhada do REAA por fora das Colunas e por trás das Luzes, embora diferente da praticada em outras Potências, era adequada. E os Irmãos das Grandes Lojas acreditaram. Tais peças de arquitetura,
hoje, podem ser esquecidas, apagadas. Uma precedência que não vale mais. A verdade no templo das Grandes Lojas é outra. Na carta o Comendador não especificou quais precedências são intocáveis.
Ailton Pinto de Trindade Branco
Presidente da Oficina de Restauração do REAA
Fevereiro/2015.